segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

FINIS AFRICAE




Finis Africæ



Em 1984, o chamado "rock de Brasília" começava a invadir todas as praias e rios do Brasil. Foi neste ano que, influenciados pelo punk rock, três rapazes - Neto (no baixo), Ronaldo (bateria) e José Flores (guitarra) - resolveram se juntar para formar uma banda. Batizaram-se Finis Africae. Logo depois juntou-se a eles o vocalista Rodrigo. Em setembro do mesmo ano participaram da coletânea: Rumores, com as composições Ética e Van Gogh, que foram veiculadas por várias FMs alternativas do Planalto, do Rio e de Sampa. Em 85, saiu Rodrigo e entrou Eduardo, que além de cantar escrevia letras altamente existencialistas. Em 86, lançaram um mini-lp com seis faixas, entre elas Armadilha e Máquinas do Prazer. O impacto foi tanto que este tornou-se o único LP independente a integrar a programação das grandes FMs do Rio e de Sampa. Como qualquer outro grupo candango, o Finis Africæ é um fruto imprevisto de uma cidade planejada. A inquietude e a solidão compuseram um rock planaltino, rico em expressão com um mínimo de recursos, pelo menos no início. Considerados a terceira geração de músicos de Brasília, o Finis passou a infância ouvindo 0 Aborto Elétrico - gênesis da musicalidade brasiliense -, a adolescência tocando no asfalto das avenidas, e agora começa a sentir o sabor do sucesso na brisa fresca à beira-mar. O quarteto fazia a linha do romantismo melancólico - dark, como se dizia nos anos 80.O nome retoma uma língua quase morta, sugere mistério e desperta a curiosidade; além de fazer uma clara alusão ao continente famoso por ser a raiz rítmica de quase toda a percussão moderna. E as referências não param aí, pois Finis Africæ também era o nome dado ao local mais secreto do acervo da biblioteca da abadia beneditina onde se desenvolve a trama de “O Nome da Rosa”, best-seller de Umberto Eco.Como em qualquer outra banda do cerrado, a musicalidade do Finis é basicamente intuitiva - Nenhum dos quatro integrantes estudou harmonia, composição... - , cheia de urgência. Afinal, foram naquelas terras áridas, naquele clima seco, que a semente punk londrina vicejou mais forte. A batida forte, as letras políticas e o olhar nervoso canalizaram a energia aprisionada em muito concreto, dinheiro e tédio.Ronaldo (batera experimentalista), José Flores (guitarrista zen), Neto (baixista versátil) e Eduardo de Moraes (vocal etílico) só definiram esta formação em meados de 85. Um ano antes, sem o Eduardo, já haviam se destacado entre os grupos mais novos e gravado o míni-LP Rumores. No início de 86 produziram seu primeiro mini-LP solo, em 45 rpm, que também tornou-se a primeira produção independente de um grupo de rock brasileiro a integrar as play-lists das FMs de grande audiência do Rio e São Paulo. Sucesso caminhando a passos largos, vieram para o Rio e se instalaram na casa de parentes e amigos, pois "aqui é mais fácil, estão as maiores gravadoras". explica Eduardo. O investimento deu retorno rápido. A EMI-Odeon contratou e eles gravaram um LP que leva o nome do grupo e o selo da qualidade. O Finis Africæ projetou-se nacionalmente. Ao vivo, o som intuitivo e intenso fica ainda mais explícito. O público variado que vai aos shows da banda raramente deixa de se empolgar com a força interpretativa dos músicos. "Tem muito coroa que se amarra em Armadilha", diz Neto.Eles não acreditam em política. Igreja ou padre - ouvi Deus Ateu, primeira música do lado A. Já Ronaldo acredita em "Nelson Rodrigues e na força do dinheiro". Um pouco menos cético o letrista Eduardo escreve nos ensaios, "depois vou mudando de acordo com o andamento".Encerram suas atividades no início dos anos 90, entretanto, em 31 de março de 2000 voltaram com a última formação (Eduardo de Moraes, o mestre de cerimônias na voz; Ronaldo Pereira, o pulmão e a alma da banda na bateria; Roberto Medeiros no baixo, César Nine na guitarra e MacGregor nos teclados e segunda guitarra), no Ballroom - Rio de Janeiro.
OS ROMÂNTICOS DO ROCK
Por Ana Gaio
Esse ano parece estar desatinado as bandas de Brasília. Depois do sucesso de Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial, agora é a vez do Finis Africæ, que acaba de lançar seu primeiro elepê pela Odeon. Eduardo. vocalista, começou primeiro com o grupo Virgens, mas a banda acabou se desfazendo. e há três anos ele mergulhou no projeto no Finis, ao lado de Neto (baixo), Ronaldo (bateria) e Zezinho (guitarra). "Eu acho ótimo que as bandas que estão aí batalhando há tanto tempo comecem a aparecer finalmente, como é o nosso caso", diz Eduardo. Mas Ronaldo não acredita muito nessa mitificação do rock de Brasília. "Nem tudo que vem de Brasília é necessariamente bom." Há mais ou menos um ano, o Finis lançou um elepê independente, e teve uma música bastante executada nas rádios, Armadilha, também presente nesse novo trabalho. As influências da banda são as mais ecléticas possíveis, afinal, cada um tem uma formação, mas a música negra é a mais forte delas. Brasília, como em todas as outras bandas de lá, é uma presença forte, cada uma com sua identidade própria. Mas o Finis não tem nada de político, é absolutamente romântico. Eduardo, responsável por todas as apaixonadas letras da banda, se justifica. "Ora, todo mundo é um pouco romântico." Mas, apesar de tudo, eles deixaram a cidade e se estabeleceram no Rio de Janeiro. "Acho que é porque nós não temos raízes e sim antenas". explica Neto."A gente tem a maior fissura por aquela cidade, mas não tinha condições de sobrevivência lá."O nome tão original foi tirado do livro de Umberto Eco, O Nome da Rosa, que Zezinho leu há algum tempo.Mas, é claro que les não vivem só para a música. Neto, por exemplo, é apaixonado por dinheiro, adora ler e comer, mas detesta esportes. Eduardo, um libriano de 23 anos, é o único casado da banda e adora fazer jogging. Ronaldo não perde um desenho animado e muito menos u joguinho de futebol. Zezinho, 23 anos,geminiano, gosta de televisão e ouvir rádio ao mesmo tempo, para não se ligar em nada. Sua maior preocupação é perder a barriga e encontrar um mulheraço.
A ALQUIMIA DO SUCESSO
Por Dudu Feijó
Em 1984, o chamado "rock de Brasília"comneçava a invadir todas as praias e rios do Brasil.Foi neste ano que, influenciados pelo punk rock, três rapazes - Neto (nobaixo), Ronaldo (bateria) e José Flores (guitarra) - resolveram se juntar para formar uma banda. Batizaram-se Finis Africae. Logo depois juntou-se a eles o vocalista Rodrigo. Em setembro do mesmo ano participaram da coletânea: Rumores, com as composições Ética e Van Gogh, que foram veiculadas por várias FMs alternativas do Planalto, do Rio e de Sampa. Em 85, saiu Rodrigo e entrou Eduardo, que além de cantar escrevia letras altamente existencialistas. Em 86, lançaram um mini-lp com seis faixas, entre elas Armadilha (que as rádios estão tocando) e Máquinas do Prazer. O impacto foi tanto que este tornou-se o único LP independente a integrar a programação das grandes FMs do Rio e de Sampa. Agora, seu novo vinil, com a banda já contratada pela Odeon, está nas lojas há uma semana e já saiu com trinta mil cópias vendidas.Na verdade pelo próprio gosto dos músicos o espírito punk permaneceu, mas musicalmente, seu som enveredou mais pelos caminhos funk. Ö funk é uma coisa alegra, que levanta", explicou Zezinho Flores. O LP super dançável, vem com três músicas que estavam no mini-LP e sete mais recentes. As letras de Eduardo - algumas curtas e sem refrão, que se repetem enfatizando certas passagens (nem por isso perdendo a força) - são sinceras, têm bons versos e encaixam-se bem nos climas musicais. Em geral abordam temas "deprê"(Deserto, Máquinas do Prazer), existencialistas (Armadilha, Mentiras) e mesmo de cunho social (Deus Ateu, Chiclete). Nada mais coerente para um grupo originário do centro de decisões de3 todas alegrias e efrustrações nacionais. Apesar da densidade que a temática, meio barra pesada sugere, aliadas ao rítmo dançavel, as letras acabam ganhando um clima de catarse, de soltar gritos presos, mas com prazer e força. Ficam gostosas e não há peso. O que poderia ser uma contradição (existencialismo / deprê social X alegria / funkrock), passa a ser uma bem resolvida alquimia. Os dois lados saem ganhando."Acho super importante que uma música, para pegar, tenha um batidão. Não nos descuidamos do aspecto melódico, nem harmônico, que é meio melancólico". Frisou Neto. "Queremos dar o que recebemos das músicas que gostamos de ouvir e dançar". Completou Zezinho.Musicalmente, as faixas na maioria, trazem curiosos efeitos e explorações de sonoridades, completando os bons arranjos. Trata-se de um elepê bem produzido de uma banda que pode ser um dos destaques do cenário musical brasileiro em 1987.
Finis Africæ, de Brasília, a fornada mais recente, agora em novos sabores...
Por Alex Antunes
Good Times", funkão do Chic, abrindo o show?! É. Eduardo, Zezinho, Neto e Ronaldo - sob a esotérica alcunha de Finis Africæ, o enigma do romance O nome da rosa - também são do planalto, mas rezam para outro santo. A terceira geração do rock de Brasília (a primeira, a do mítico Aborto Elétrico, escrachava no punk local; a segunda, da Legião/Plebe/Capital Inicial, invade o o país com seu som possante) saiu-se bem mais eclética e suingada. Como a melhor banda na coletânea Rumores e com algumas demo tapes já emplacadas nas FMs ïnformadas" do Rio e São Paulo (Fluminense e Estácio / 89 e 97), o cismático Finis está lançando o seu LP de estréia.Entre as seis faixas há trabalhos mais antigos e sombrios ("Pretérito"), transição ("Mentiras") e aventuras mais recentes ("Armadilha, Máquinas do Prazer"). As letras continuam meio pessimistas, vazadas na inflexão petermurphyana de Eduardo. Mas a cozinha de Ronaldo (bateria) / Neto (baixo) vem se dobrando ao balanço crioulo, assimilado dos prediletos da Motown e adjacências (Ronaldo:"Black na alma, não na roupa". Gol).Zezinho (guitarra) apóia e sugere uma bossa. Mas é ao vivo que eles se resolvem. E aí sai Chic, ou a clássica do velho Aborto Elétrico: Fátima (gravada pelo Capital) ou Siouxsie ("Nightshift") ou Bauhaus ("Kick in the eye")...O que der na veneta. Pique e competência na execução não faltam. O caso é sério - shake it.










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